Conheça o ‘deboísmo’, a nova filosofia ‘de boas’ da internet (OGlobo)


Petralhas e tucanalhas, coxinhas e esquerdistas caviar, suportai-vos. É isso o que prega o “deboísmo”, a nova “filosofia”, ou “religião”, que se espalha pelas redes sociais no país. O dogma é simples, e faz bastante sentido, não importa a opinião do outro: respeite e fique “de boas”.

— “Deboísta” é quem é adepto da filosofia do “ser de boa” — explica Carlos Abelardo, 19 anos, estudante de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Goiás e criador, ao lado da namorada, Laryssa de Freitas, da página no Facebook “Deboísmo”. — É aquela pessoa que não se deixa levar por problemas bestas, que mesmo discordando de alguém não parte para a agressão. É a pessoa calma, que escolhe o lutar em vez de brigar.

O termo, ou “filosofia”, se espalhou pela internet. A página “Deboísmo” foi criada no dia 27 de junho e já conta com mais de 340 mil curtidas. Até o Ministério do Trabalho entrou na brincadeira e, na quarta-feira, divulgou em suas redes sociais um meme sobre o assunto. E a repercussão fez com que a “filosofia” ganhasse ares de “religião”, com o surgimento da “Igreja dos de Boas”.

ADVERTISEMENT — A discussão ultrapassou as redes sociais e afetou a relação com a minha família — disse o jovem de 23 anos, criador da “Igreja dos de Boas”, que preferiu não se identificar. — Eles são extremamente religiosos e de direita, e eu sou um crítico ferrenho do mercado religioso e apoio publicamente a luta pelos direitos LGBT, pelos direitos das minorias e me identifico com a esquerda. A ideia para a “Igreja dos de Boas” surgiu de uma necessidade pessoal de encontrar pessoas que levam a vida de uma forma mais leve em meio ao turbilhão político, social e religioso que o Brasil enfrenta.

Apesar do sucesso, o “deboísmo” também sofre críticas de pessoas que consideram a brincadeira uma forma de desviar o foco das disputas políticas e sociais que tomaram conta da internet. Para Abelardo, não é essa a intenção.

— De forma alguma ser “de boa” é deixar injustiças acontecerem — disse Abelardo. — Mas é ser sábio para abdicar de uma discussão quando o outro está muito esquentado. O “deboísta” sabe que não vai ganhar nada discutindo com alguém que está xingando e o desrespeitando.

E a “filosofia”, ou “religião”, tem até uma lista com dez ensinamentos, em referência aos dez mandamentos. Os itens destacam o respeito com o próximo, mesmo que tenha opiniões discordantes, mas destaca que o “deboísta” não deve se autocensurar, nem “ignorar o mal”, mas “sempre respeite o direito dos outros de discordarem de você”.

Segundo Abelardo, o movimento é apartidário, mas político. E sobre a escolha do símbolo, que é uma preguiça, ele diz que calmaria natural do animal passa uma sensação automática de “ficar de boas”.

— É o animal mais de boa — diz. 





Fonte: O Globo

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